parei para ouvir você. o seu olhar revelava a angústia que
sentia por dentro. precisava falar, precisava que alguém o escutasse. e eu
sempre me senti sortuda por ser essa pessoa que te ouviria, já que, em sua
maioria, era você quem sempre me escutava tagarelar sem controle após uma
semana distante, mesmo nos falando todos os dias. você então falou, durante
todo o trajeto de volta para casa. falou como nunca feito antes. e eu ouvi,
dessa vez sem muitas réplicas. sabia que, neste momento, você não precisava e
tampouco queria algum conselho. precisava apenas falar. e falou. do trabalho,
das dificuldades da vida, e do peso que sentia por fazer demais e ninguém ver.
mas eu via. e doía. doía porque eu sabia que ninguém te veria da mesma forma
que eu. e não falo de amor. embora o nosso olhar ao outro sempre fique mais atento
quando o amamos. e eu amava. amo. e faria de tudo para que você não precisasse
tanto falar, sozinho. mesmo que te ouvir seja a minha sorte. mas quero te ouvir
falar de amor. de planos, felicidade e futuro. comigo. quero falar com você.